Vitrolanews- São quase três décadas dedicadas ao Rap, na sua opinião o que mudou do início para cá?Japão - Tenho 26 anos no Rap nacional, 3 anos de Esquadrão Mcs, meu primeiro grupo, 8 anos de GOG e 16 anos de Viela17. Vi muitas coisas acontecerem desde o início, no começo não tínhamos o formato digital, trabalhavamos com o sistema analógico, era tudo muito caro e como o Rap estava surgindo com muita força, a correria era muito grande porque não tínhamos recurso financeiro para produção musical. Cada música tinha que ser bem elaborada e ensaiada, quando tínhamos oportunidade de gravar não podia ter erro, pois estúdios eram pagos por hora e muito caro. Hoje, com a digitalização, conseguimos fazer produções mais baratas e de forma intensa.
"O Rap até hoje é discriminado, temos uma pequena parcela da mídia que relata produções da nossa cultura"
Vitrolanews - O Rap já foi um ritmo discriminado, principalmente por parte da grande imprensa. Hoje já vemos uma mudança significativa, como nomes do Rap nos principais jornais do país. Você acha que isso se deu também por conta de uma mudança de postura das pessoas que fazem a cultura hip-hop?
Japão - O Rap até hoje é discriminado, temos uma pequena parcela da mídia que relata produções da nossa cultura e a grande mídia pega carona com artistas com maior visibilidade. Não se interessam em estudar nossas reais intenções e a grande maioria conhece a cultura em suas redações. Tivemos um grande avanço mas ainda é pouco tendo em vista que estamos nos quatro cantos do país, com ativistas mudando a realidade de suas comunidades, mesmo invisíveis perante a mídia nacional.
Vitrolanews – Você acha que ainda existe discriminação ao ritmo?
Japão – Sim. Existem artistas que são criados pela grande indústria e que não tiveram histórias relacionadas com comunidades e muito menos com os propósitos da cultura Hip Hop. Temos artistas ligados às grandes marcas e que hoje se preocupam mais com a estética visual do que com a realidade que acontece no país.
Vitrolanews – Como você avalia a postura da imprensa hoje em relação aos artistas que fazem hip-hop?
Japão - A imprensa brasileira baseia a cultura em geral com artistas que são mais acessíveis e de ritmos mais pop, quanto ao Rap temos uma relação sempre de desconfiança. Não tenho contato direto e dificilmente sou procurado pela mídia, salvo trabalho de atenção coletiva ou lançamento de algo. Mas ainda seremos estudados e reprovados. Mas na real, estou pouco preocupado com isso, tenho coisas mais importante para rever.
Vitrolanews – Os artistas também mudaram sua forma de pensar e agir?Japão - É complicado citar outros artistas, mas falando da minha postura tendo em vista as grandes mudanças dos anos 90 ao século XXI, mudei bastante. Mas procuro sempre manter as bases intactas, sou muito tradicional, acredito no Rap como forma de mudança e revolução.
Vitrolanews – Brasília, particularmente a Ceilândia, sempre revelou grandes nomes do Rap para cena nacional (Câmbio Negro, DJ Jamaica, Viela 17). Atualmente tem novos nomes na cena local que você indica como promessa?Japão - Sim, o ciclo artístico do Rap Ceilandense não para. Há cada dia aumenta o número de representantes na cultura do Rap Nacional. Indico como promessa o grupo Sobreviventes de Rua, da Expansão, como um forte representante, mas existem vários como Rafinha Bravoz, Sidnei O Bairrista, que fazem do Rap daqui motivo de orgulho.
Vitrolanews - Fale um pouco sobre o novo DVD. Japão - O DVD foi gravado na Casa do Cantador, na Ceilândia, em novembro do ano passado. Contamos com várias participações especiais de Rapper's e cantoras que se destacam cada vez mais na cena do Rap local e nacional. O lançamento do DVD está previsto para Março/Abril e será o primeiro DVD de Rap Nacional (que tenho conhecimento) que virá com gravação totalmente em 4K (3840 X 2160 pixels). Terá também legendas em 4 idiomas (Português, Francês, Espanhol e Inglês), legenda autodescritiva para deficientes auditivos e cópias em braile para deficientes visuais. E um documentário com depoimento de artistas e ativistas diversos. É um DVD completo com direção do conceituado Leandro G. Moura, produção executiva de Daniela Mara dos Santos, Mixagem e Masterização do DJ Raffa Santoro e será lançado em parceria com a Bagua Records.
"Só teremos êxito em nosso trabalho quando nos profissionalizar. Não conseguiremos bater de frente com o opressor e a mídia agindo como fracos e desorganizados"
Vitrolanews – Além do DVD quais os próximos projetos do Viela 17? Japão - Começamos o ano lançando no dia primeiro de janeiro o Single ‘Entre o amor e o desprezo’, produzido pelo DJ Raffa e com participação especial de Handriell X. Lançaremos o DVD mundialmente e estamos preparando novo álbum (décimo de minha carreira) que contará com boas participações, lançamento de pelo menos dois videoclipes. Além disso, promoveremos o evento Quem é Quem? Expressões culturais Ceilandenses e circularemos com o projeto musical Ceilândia G-Funk.
Vitrolanews – O RAP tem um missão importante no papel de conscientizar os jovens. Qual é a principal mensagem do Japão?
Só teremos êxito em nosso trabalho quando nos profissionalizar. Não conseguiremos bater de frente com o opressor e a mídia descarada agindo como fracos e desorganizados. O lema para esse ano será mais ação e menos conversa. Só assim sairemos vitoriosos. Não percam tempo medindo o esforço de um ativista, se não puder somar para revolução, fique de canto, pois existem trabalhadores a fim de mudança e para concluir tal proeza não iremos parar por nada, partiremos sem freio para a mudança.
Obrigada pela parceria. Tamojunto
ResponderExcluirJapão parabéns pelo trabalho e por levar aonde for o nome da nossa quebrada viela 17. abraço (Marquinho)
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