sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Quando é que a música fica pronta?
É uma pergunta curiosa, não? Bem, em toda minha vida já consegui a façanha de fazer duas músicas. Simplezinhas, tadinhas, mas saíram... assim, assim.
Quando consegui encaixar a letra na melodia tive aquela sensação de trabalho concluído. No dia seguinte, porém, voltava aquela dúvida de que tinha de mexer em mais alguma coisa: um acorde, um detalhe melódico, umas palavras.
Em resumo, compor música não seja tão diferente de escrever um texto. A gente sente quando ela ganha uma estrutura de algo finalizado, mas se volta a lamber a cria, sempre vai achar que tem algo faltando.
Escrever é assim. Nunca fica pronto. Sempre que voltarmos a ele teremos o que cortar, acrescentar, mudar. Somos nós que precisamos decidir o momento de dizer: Chega, terminei!Somos nós que precisamos cortar o cordão umbilical para que a cria deixe de ser parte de nós e passe a ser do mundo.
Acho que isso é o mais difícil, não? Enquanto não está pronta, é nossa. Enquanto está inacabada, é passível de melhorias. Enquanto não concluímos, podemos alimentar em nós mesmos a ilusão de que chegaremos, quem sabe um dia, à perfeição.
Pronta, ela passa a não ser mais só minha. Ela é publicável. Visível, permitindo que outros deem a ela sua interpretação, cargas de sentido que nós nunca imaginaríamos, perdemos o total controle sobre a coisa criada. Ahhhh, isso dói! Estará lá, exposta a todos... para ser lembrada, enaltecida, criticada ou esquecida, mas será do mundo, não mais nossa.
Quantas crias você tem aprisionadas na gaveta ou num arquivo esquecido do computador? Quantos fantasmas escondidos, implorando pela libertação? Quantos pontos finais em suspenso, esperando o alívio do papel? Se a criatura cria dor, o criador a cria atura. Liberte-a, liberte-se!
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