Corria a segunda metade dos anos 60, os militares trapalhões "arrepiavam" por aqui e, lá fora, o mundo preparava suas transformações. Não existia internet, telefone celular e nem mesmo os agora "velhos" fax e playstation. Era uma vida em preto e branco e discos de vinil. Matilde era adolescente. Depois da escola, chegava em casa e colocava Beatles na vitrola. Minha vizinha e eu - bem mais novo que ela - nunca trocamos uma palavra. Mas foi ela - sem saber e separada por uma parede - quem me apresentou "Ticket to ride", "Eight days a week" , "She loves you" e muitas outras.
Quando Matilde e seus discos foram embora para outro bairro, o vizinho dela já estava catequizado. Traffic, Led Zeppelin e Black Sabbath foram para o apartamento 205 de onde não mais saíram. A música virou paixão e profissão, mesmo que dos bastidores - por trás da parede. Passadas estas décadas, os militares voltaram a seus quartéis de beira mar - sem saber que o inimigo entra pelas nossas fronteiras secas. Dona Matilde, hoje, deve ser uma senhorinha que reclama do barulho que o neto faz quando espeta o USB para ouvir suas bandas preferidas neste novo milênio. "Vovó, quem foi John Lennon?"
Por Claudio Carneiro
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