Prestes a lançar o sexto disco da carreira, a banda capixaba Dead Fish conseguiu se consolidar não apenas no cenário underground. Com seu hardcore melódico, a banda já está há quase 18 anos na estrada. Em meio às mudanças da cena musical, novas tecnologias e crise na indústria fonográfica, o grupo prova que ainda é possível viver de música e fazer aquilo que se gosta. Vivendo atualmente em São Paulo e envolvido com o processo de finalização do sexto álbum da carreira, o baixista Alyand Mielle (primeiro da esquerda para a direita na foto) bateu um papo com o VitrolaNews. Ele falou sobre o rock nacional, novas tendências, shows e, de quebra, antecipou o que os fãs podem esperar do novo disco do Dead Fish. Confira:
VitrolaNews - Bem, a banda saiu do ES, um estado não muito famoso como exportador de bandas, e ganhou destaque não só no underground nacional. Como foi essa transição? Existe uma cena forte no Espírito Santo?
Alyand Mielle - O ES sempre teve bandas muito boas e sempre teve várias cenas musicais interligadas, já que se trata de um lugar pequeno e as cenas são bem pequenas também, mas sempre muito ativas. Sempre achei que o grande problema foi as pessoas de lá nunca darem muito valor ao que é de casa, em raros momentos vi as pessoas dando valor a um cenário embrionário ou algo legal que estava virando. Normalmente quem dava valor eram caras com senso de heroísmo absurdo indo contra tudo e todos e fazendo virar graças aos seus esforços. Isso funciona durante um tempo até, mas depois passa a virar murro em ponta de faca e nego cansa. Hoje estou bastante afastado das coisas que rolam por lá, mas tenho certeza de que ainda existe um monte de gente produzindo e fazendo coisas lá dentro que nego não dá a mínima.
VN- Ao todo já são quase 18 anos de estrada? O que mudou na forma da banda encarar e fazer música depois de tanto tempo na estrada?
AM - A gente ficou mais velho, a música se tornou nossa profissão, isso tem um peso um pouco maior quando se está numa banda que vive dela mesma. Mas foi isso que tínhamos como objetivo e nos sentimos muito privilegiados. No entanto isso tem implicações como sermos mais rígidos na nossa parte técnica e sermos mais críticos com tudo que produzimos.
VN - O fenômeno “Emo-core” tomou a cena agora nos anos 2000. Essa nova tendência de alguma forma prejudicou o trabalho de bandas que ainda não se renderam ao estilo?
AM - O problema não foi o estilo, não acho o fenômeno a coisa mais diabólica do mundo como dizem por aí, acho que o grande problema foi a mentalidade de "sucesso" que estes guris têm. A coisa passou a ser música pela música pra vender e investir, daí veio um monte de distorções que sempre achei ridículas vindo de onde vim como vender ingresso pra tocar, pagar pra tocar e fazer um monte de gente bastante oportunista se infiltrar num meio que já é bastante complicado. No geral, continuamos a fazer nosso trampo do nosso jeito, nunca tivemos grandes objetivos além de vivermos do que tocamos, e sabíamos muito bem que se tínhamos personalidade teríamos que pagar um preço por tudo isso.
VN - Nos anos 80, o rock nacional tinha uma outra cara que fez história e até hoje é lembrado. Como vocês avaliam o presente do rock brasileiro?
AM - Eu gosto, mas eu moro em SP, aqui tem milhões de vertentes independentes, milhões de bandas e vários lugares pra tocar. Talvez se morasse no ES teria a impressão de que a coisa vai mal das pernas, mas aqui eu posso ver show de segunda a segunda passando de HC até Dub, portanto tenho uma visão meio diferente.
VN - Outro fenômeno dos anos 2000 são as novas ferramentas para divulgação da música, que surgiram com a internet (blogs, sites, comunidades virtuais). Como vocês vêem a expansão dessas formas alternativas?
AM - Usamos todas elas do nosso jeito sem muita neurose. Acho todas boas pra divulgação direta, mas acho que tudo que esta aí na net acaba se tornando bem mais descartável do que no meu tempo das cartas. Naquele tempo dávamos mais valor pra ver a banda ao vivo, ler o encarte do cd e estas coisas.
VN - Falando sobre o novo disco, o que mudou na forma de compor? Fale um pouco sobre o processo de produção, mixagem, participações, efeitos, busca por novos timbres...O que os fãs podem esperar desse novo trabalho?
AM - Este é o nosso 6º CD cheio, o resto são coisas ao vivo, EP e coletâneas. Neste trabalho buscamos ser o mais simples possível, usar tudo que temos e vivemos nos últimos anos. O CD vai sair simples e com uma cara de anos 90 ao meu ver, letras mais diretas e música mais rápida. O Phil conseguiu achar muitos timbres mais crus na produção deste CD. Eu gosto bastante da forma que ele deu pras guitarras com mais timbre e menos distorção, acho que sempre quis que fosse assim e agora achamos. As pessoas podem esperar um CD de hardcore melódico ao estilo Dead Fish.
VN - Por fim, o Brasil definitivamente retornou à rota dos grandes shows internacionais, esse ano passaram por aqui grandes nomes do pop, hardcore, metal...e o Dead Fish inclusive já abriu para algumas dessas bandas. A agenda de vocês permite acompanhar esses shows como expectador/fã? Tem alguma banda que vocês gostariam muito de tocar juntos, ou sempre tiveram vontade e já tocaram?
AM - Já tocamos com a maioria das bandas que gostaríamos e isso foi legal demais, algumas destas bandas acabaram se tornando grandes amigas da gente e temos contato até hoje. Neste ano de 2008 nem fui a muitos shows, não tenho carteirinha e os ingressos por aqui ficaram muito, muito caros, o que me impediu de ir ver várias bandas que gostaria. Os shows que vi foram muito bons, como o do Bad Brains que me fez ganhar o ano. Hoje eu gostaria de tocar com uma banda que gosto muito desde sempre que se chama Ataque 77, da Argentina. Estamos tentando fazer algo juntos.
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