segunda-feira, 20 de abril de 2009

B-52s não decepciona e mata a saudade dos anos 80

Os penteados estão menos extravagantes, mas elas ainda usam shorts curtos, dançam pelo palco e seguem sem deslizar nos agudos. Kate Pierson e Cindy Wilson têm mais rugas, mas o tempo em nada diminuiu a energia de ambas no palco - assim como Fred Schneider, a voz masculina do B-52s. Em show neste sábado, 18, em São Paulo, a banda promoveu uma festa animada e cheia de hits.

Nem os desnecessários 50 minutos de atraso tiraram a paciência dos que ficaram na capital durante o feriado prolongado. A plateia só se manifestou em peso, com gritos e ensaios de vaias, por volta das 22h40, quando o DJ tocava, pela segunda vez, "Kids", do MGMT. Pouco depois, Kate, Cindy, Fred e Keith Strickland, o guitarrista, subiram ao palco - as 4.800 pessoas presentes no Credicard Hall (a pista estava lotada; área de cadeiras e mezaninos tinham inúmeros lugares vazios) esqueceram o atraso e se entregaram ao clima dançante da apresentação.

Difícil assistir ao show sem lembrar dos anos 1980 - mas aqui, isso não é um mau sinal. O quarteto lembra a década sem soar nostálgico ou parado no tempo. Funplex, último álbum (de 2008, o primeiro de inéditas em 16 anos), tem tudo que fez o B-52s despontar no cenário musical no início da carreira, em 1979: os riffs dançantes e pegajosos, os vocais quase falados de Fred e as letras bem-humoradas e com clima de diálogo. Mas a pitada eletrônica com ares modernos, adicionada na medida certa, faz com que o disco seja atual - e atraente não só para os quarentões que viveram o auge do grupo (e dos icônicos topetes de Kate e Cindy), mas também ao público jovem que compareceu à apresentação.

"Pump" abriu o show com a guitarra animada de Keith. Cindy mexe os quadris e faz pose o tempo todo, como se estivesse gravando um videoclipe - os cabelos, de um loiro quase branco, sempre esvoaçantes por conta de um pequeno ventilador postado ao lado do guitarrista. Em "Mesopotamia", Fred chama o público para dançar, enquanto Cindy toca bongô e Kate balança as mangas vermelhas da blusa que lembra o figurino de uma dançarina de flamenco.

O quarteto (Ricky Wilson, o quinto elemento, morreu em 1985, pouco tempo depois da primeira apresentação do B-52s no Brasil, no Rock in Rio) é acompanhado por um tecladista (que também assume a guitarra em alguns momentos), uma baixista e um baterista cheio de ritmo. "Private Idaho", hit do disco Wild Planet (1980), faz o público gritar - muitos agitam bexigas e tentam acompanhar a vocalização de Kate, sem muito sucesso, já que o agudo da cantora, nesta música, não é dos mais fáceis de imitar. Em "Give Me Back My Man", ela ainda toca teclado e maracas - estas inaudíveis diante da voz de Cindy.

As calças listradas de Fred (usadas também na capa de Funplex), o corpete justo e a cabeleira ruiva de Kate e as longas botas de Cindy chamam mais atenção que o palco, decorado apenas com um fundo preto, no qual desenhos simples (flores ou formas geométricas) são projetados por canhões de luz.

"Quiche Lorraine" ("Sobre um cachorro que arruinou nossas vidas", diz Fred), "Roam" (um dos sucessos de Cosmic Thing, lançado em 1989) e "Hot Corner" (a mais animada de Funplex) serviram para intensificar o clima de festa. Mas foi em "Love Shack", hit essencial, que o público tirou todos os passos do armário e acompanhou a plenos pulmões o refrão. No palco, a baixista veio à frente e se fez ouvir em uma linha suingada, acompanhando, lado a lado, Keith.

O bis veio com "Planet Claire" (do primeiro disco, homônimo, de 1979), "Keep This Party Going" e "Rock Lobster", primeiro single, responsável por elevar o grupo à condição de expoente da new wave no final da década de 1970. Depois de tanto tempo na estrada, o B-52s mostrou que ainda cumpre sua missão: a de fazer o público esquecer, por cerca de 90 minutos, os hits radiofônicos atuais - e lembrar que guitarras, bom humor e vocais competentes também combinam com música para dançar.

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