Os críticos de música costumam dizer que a percussão é a cozinha de uma banda. Mas como “chefs” espetaculares como Jamie Oliver, Alex Atala e Claude Troisgros conquistaram fortuna e seus próprios programas de televisão é provável que este seja mesmo o cômodo mais importante de uma “casa”. Partindo desse raciocínio, e já que estamos na Copa (desculpe a piada sem graça!), vamos direto pra cozinha, reduto dos homenageados do dia.
Primeiro cozinheiro. Robertinho Silva nasceu em 1941 – não façam as contas, pois a vitalidade e juventude do cara derrubam esse papo de idade. Outro dia, tive a oportunidade de tietar meu ídolo numa rua do bairro carioca de Botafogo. Ele esperava uma carona de amigos e eu, o taxi. Não resisti e disse: ”o maior baterista do Brasil!”. Ele abriu um sorriso. A conversa rolou na hora. Desprezei o taxi. A carona dele, felizmente, não veio. Robertinho já tocou com Milton Nascimento, João Donato, Ivan Lins, Egberto Gismonti, Wayne Shorter, Sarah Vaughan e George Duke, só pra citar alguns. Ele me disse que, aos poucos, está passando a batuta, ou melhor, as baquetas, para os filhos. São quatro. Eles formam o “Robertinho Silva e Família” – confira o site dele: http://www.espacomusicalrobertinhosilva.com . Figura muito simpática.
Em seguida, um senhor calvo e elegante – que passaria facilmente por um político ou, quem sabe, um cientista - que veio ao mundo pra fazer barulho mas - diferente das vuvuzelas – com ritmo e competência. Quem nunca ouviu falar em Ray Cooper que me perdoe, mas é bola fora em percussão. Pois este súdito da Rainha da Inglaterra, nascido um ano depois de Robertinho, tem um currículo de fazer inveja. Os mais velhos - que ouviram artistas como America, Carly Simon, Wings, George Harrison e Ringo Starr – fiquem sabendo: já ouviram muito o Ray Cooper. Quem preferia artistas mais “pop” ainda, no estilo Sting, Pink Floyd, Eric Clapton e Mark Knopfler, também não escapou. Quem assistiu ao concerto “Music for Montserrat” deve ter visto um “senhorzinho”, muito feliz, tirando som de tamboretes e de tudo mais que passasse por suas mãos. Cooper também atuou como ator. Lembra do padre do filme “Popeye”? Pois é.
Para terminar, e aproveitando que Gana ainda está na Copa, vamos falar do ganês Reebop Kwaku Baah – que cuidava dos quitutes e temperos musicais da banda inglesa Traffic. Apesar de ser o caçula entre os personagens deste texto – nasceu em 44 – Reebop morreu prematuramente, vítima de um AVC, quando participava de um show de Jimmy Cliff na Suécia, em ’83. Além da banda dos geniais Steve Winwood e Jim Capaldi, Reebop emprestou seus inconfundíveis atabaques para Eric Clapton, Pete Townshend e também para um grupo “que promete” chamado Rolling Stones.
Fazia tempo que queria falar sobre esses caras que encontraram o sucesso, mesmo buscando o modo mais discreto de alcançá-lo. Esse é um tributo que pago a essas três feras. Tenho o dito.
Por Claudio Carneiro - radialista, jornalista e publicitário com passagem nos anos áureos das rádios Fluminense FM (A Maldita), Transamérica (RJ) e 89 FM (a rádio rock de São Paulo). Foi repórter aéreo e produtor das Rádios Cidade e JB FM, no Rio. Atuou em emissoras de TV. Hoje escreve o Blog do Refri, milita em assessoria de imprensa e sempre que possível contribui com o VitrolaNews.
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