quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O velho e bom blues de BB King


Não existem muitos octogenários em atividade no ramo da música.Portanto, B.B. King não tem, em teoria ao menos, grande competição em seu ramo de escolha: o blues rural, antiquado, que inspirou meio mundo dentro do rock'n'roll e outra meia dúzia de subgêneros menos cotados.

King, mais do que um veterano, é provavelmente o nome mais associado ao blues em toda a história do estilo - ainda que, na pior das hipóteses, sua longevidade e renome sejam mais visíveis que seu talento. Ao que parece, o maior “concorrente” do bluesman, que passou por um “inverno artístico” demasiado longo, era ele mesmo: uma interminável sucessão de discos semi-idênticos, além de uma afeição por duetos inexpressivos popula boa parte de seu catálogo nos últimos dez anos (incluindo aí o inócuo Riding With the King, gravado com um reverente Eric Clapton).

Em A Kind Favor, seu disco de maior vitalidade em muitos anos, o guitarrista conta com a mão do produtor T-Bone Burnett o guiando através da reinterpretação de algumas de suas canções favoritas.Burnett trabalhou recentemente com nomes apagados como Robert Plant e John Mellecamp na confecção de trabalhos que extraíram o melhor da experiência de ambos, e aplica o mesmo truque a A Kind Favor.

Aqui a destreza de King com as seis cordas vem em porções discretas, sempre a serviço de uma banda que preenche com elegância os eventuais espaços vazios deixados por sua guitarra - destacando-se o piano da lenda vodu de New Orleans, Dr. John. Sem perder tempo com demonstrações de técnica, ele prefere ao invés disso demonstrar como todo disco de blues soaria num mundo ideal: artesanal, sofrido e sereno em medidas iguais, e com uma dose bem servida de suingue. Ouvir King, um senhor do alto de seus 82 anos, urrar em completa entrega "Baby, estou apenas esperando sua ligação" ("Waiting for your Call") sugere de modo pouco sutil o blues como uma alternativa viável ao Viagra.
Fonte: IG MÚSICA

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