(Reuters) - Quando, logo no começo do documentário "Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência", o próprio músico diz que, na infância, gostava de pensar que era um alienígena adotado pela família, muita coisa começa a fazer sentido sobre a vida, obra e morte do líder da banda Nirvana, que se suicidou em abril de 1994, aos 27 anos. "Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência", em cartaz a partir de sexta-feira em São Paulo e Rio, é um documentário impressionista, uma colagem de entrevistas concedidas pelo músico a Michael Azerrad (autor do livro "A Historia do Nirvana", lançado no Brasil somente no ano passado), cerca de um ano antes de morrer.
A gravação em áudio limita-se a declarações de Cobain sobre sua vida, obra, família, amigos, medos, alegrias, entre outras coisas. Porém, para transformar em um filme essas horas de gravação, o diretor AJ Schnack tinha um sério problema. O que fazer em relação às imagens que não tinha? A solução encontrada acabou sendo tão inusitada quanto bem-sucedida.
A gravação em áudio limita-se a declarações de Cobain sobre sua vida, obra, família, amigos, medos, alegrias, entre outras coisas. Porém, para transformar em um filme essas horas de gravação, o diretor AJ Schnack tinha um sério problema. O que fazer em relação às imagens que não tinha? A solução encontrada acabou sendo tão inusitada quanto bem-sucedida.
O que se vê na tela ao longo de uma hora e meia de falas de Cobain são imagens das cidades onde ele morou e citadas no filme - Aberdeen, Olympia e Seattle - e pessoas, ruas, lugares, livrarias, paisagens e afins.
Para fãs que se aproximam do filme esperando gravações de shows do Nirvana, "Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência" pode ser frustrante. Para aqueles que esperam alguma grande revelação sobre o músico ou sua banda, também. Para aqueles que desejam um mergulho na alma de um artista no topo de sua criatividade e falando abertamente sobre sua vida, o documentário é compensador.
Ao longo de suas entrevistas a Azerrad, Cobain foi franco, abordando não apenas o óbvio - sexo, drogas e rock'n roll - mas também sua infância, problemas emocionais (diz ter sido diagnosticado com transtorno bipolar aos 9 anos), a mulher, Courtney Love (a quem só tece elogios), e, novamente, drogas (com as quais confessa ter chegado a gastar 400 dólares por dia).
Sem o propósito de desvendar o músico, "Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência" concede, no entanto, o prazer de ouvi-lo falando sobre si mesmo com franqueza. Diversas vezes ele comenta sobre a ideia de matar-se com uma arma. Essas falas podem não esclarecer o ato que ele cometeu um ano mais tarde, mas não deixa de ser doloroso ouvir dele mesmo.
Ao longo do documentário, Cobain se mostra tão ingênuo quanto comovente, tão sincero quanto perigoso para si mesmo. Ele sabia como chegar aos corações e mentes das pessoas com sua música.
Já o diretor Schnack encontra a intersecção entre a música do Nirvana e como esta definiu a sua era, cheia de contradições, como bem dizem alguns versos da canção mais famosa da banda: "Aqui estamos agora, divirta-nos, eu me sinto estúpido e contagiante."
Embora se ressinta da falta de imagens de apresentações da banda - o que deve estar relacionado a direitos das músicas e de imagens - "Kurt Cobain - Retrato de uma Ausência" é um belo documentário sobre um músico e de como ele foi capaz de influenciar uma geração. Num momento, Cobain diz que "quando o rock morrer o mundo vai acabar". O rock ainda está vivo e o mundo continua - mas só se pode imaginar o que mais de tão brilhante o músico ainda teria feito pelos dois.
Fonte: UOL Música/ REUTERS