sexta-feira, 18 de julho de 2008

Deck Disc 10 anos - Hardcore, Skate e Nostalgia


*Por Artur 'Kjá |HC1506

Fui convocado pela Pense para cobrir o show de 10 anos da DeckDisc,que conta com diversas comemorações, sendo divididas por gêneros e locais. Eu, hardcore até os ossos, fui convidado para assistir o primeiro set: Matanza, Dead Fish, Mukeka di Rato + Ratos de Porão e Cólera, no Circo Voador. Ótimo início de comemoração!

Aproveitando a reunião de dois ícones do punk HC, que muito agitaram minha juventude, convoquei a minha antiga galera do skate, a turma da Coronel Cota, rua do Méier que durante anos foi o pico e celeiro de skatistas com uma atitude acima da média do Rio, para me acompanhar nessa viagem ao passado.

Para quem andou de skate nos anos 90 conhece bem essa galera que citei... NorteShopping, monumento, praça XV... Funil, Lampião, Top, Bob... além dos agregados, tipo Sabá, Rato, Grosso... estávamos em todos os picos, sempre no melhor estilo 'Alva Boys', com atitude, skate e ação em nossas sessions... puta bons tempos! Era skate de alma, pois não tínhamos um fluxo de campeonatos, vídeos, sites, e nem nomes fortes no mercado mundial, diferentemente de hoje, onde já vi até pessoas que começam a andar pensando em patrocínio, viagens, Europa... nem de longe tem a verdadeira alma do skate: a ATITUDE HC.

Essa família que se criou em torno do skate, se mantém unida e evoluindo sempre, mostrando que o skate é muito mais do que esporte, e que as amizades criadas nesse berço transcendem níveis sócio-culturais, ajudando no crescimento como ser humano. Foram ao show comigo: RA, Funil, Urco, Orelha, Sonek, Top, Grosso e Sabá. Ou seja, advogados, empresários, artistas e um mestre.

Chegando na Lapa, de cara vejo a força que o Hardcore mantém, já que o evento, numa noite de quarta, contou com filas enormes formadas por punks (a maioria criada a leite ninho), skaters, velhos skins,lutadores, além das entidades que normalmente freqüentam o local. É interessante ver que a molecada, por mais que seja sobrecarregada de pagode, axé e bate-bundinhas, ainda consegue se blindar com músicas que tem conteúdo e mensagens, mostrando que ainda temos esperança de uma nova juventude, cada dia mais consciente e atuante.

Entro aos primeiros acordes do MATANZA, já que os eventos que circulam o Circo levaram diversas “cocotas” ao redor, deixando nosso olhar vagando por bundas e peitos, única coisa de bom que a merda de pagode e funk deixaram de cultura...hahahahah... mas ao primeiro acorde, minha verve HC me conduz ao epicentro do show.

Chegando lá tenho a impressão que o evento será uma noite de pseudo - hardcores, ouvindo pop-punk e achando tudo isso muito agressivo, pois estava muito lotado e o “pogo” era apenas um empurra-empurra. Porém, essa impressão é desfeita logo no início do Dead Fish, que incentivou um pogo agressivo, esquentando cada vez mais o abarrotado Circo Voador.

Minha idade tenta me enganar, me deixando cansado após o Dead Fish abrir um corredor no estilo 'baile funk' onde a horda ensandecida, que a cada minuto me conquistava mais, se degladiou sempre com muito pogo e diversão. Dou uma pausa no início do Mukeka para uma cerva e cigarrinho... aproveito para ver a fauna do local, e vejo como cresceu o número de fêmeas que decoram o Circo. OBRIGADO MTV!!!
Pin-ups, Junkies, Pop-Punks-Peitudas... a diversidade feminina é um colírio para os olhos vermelhos!!

Durante o relax, percebo a mudança de tom no vocal do Mukeka. Inconfundível: é o GORDO!!!! Corro para a roda, que nesta altura já ganhou o meu aval como autêntica, e me jogo ao som de Crucificados pelo Sistema... foda! Mesmo sem a banda, a presença marcante de João no palco, levemente alcoolizado, empolga e dá vida ao pogo, deixando a galera preparada para o grande show da noite.

No início do Cólera, fica visível a mudança de público no pogo, aparecendo anarco-punks e gangues HC que estavam esperando o momento certo para entrar em ação. Tretas, sangue, porrada seca e caos imperam no pogo agora.

Apesar da minha canseira, me mantenho ativo no meio do pogo, mantendo viva a tradição do skate do Méier, que sempre esteve no frontline da ação no Circo. Cotoveladas, demarcação de território e respeito pela minha pessoa fecham a minha atuação no pogo, já que, mesmo velho, muitos ainda lembram da minha versão 'não-tão-legal' na roda. Afinal, são 18 anos de pogo e hardcore, sendo 6 com banda, que ficaram marcados na memória, e na pele, de muita gente.

É foda ver uma nova geração com o mesmo espírito HC de antigamente,fazendo a tradição dos shows do Circo se manter viva. Espero muito que aconteça o mesmo no skate, que a nova geração busque no esporte o tesão e estilo de vida, e não apenas pensando em sugar o momento, ou em se profissionalizar.

Skate, assim como Hardcore, tem que vir da alma, e não comprar na loja do shopping mais próximo.

Depois dessa noite, o grito do Cólera ainda vai ecoar por muito tempo na minha mente: AAAaaaaa... AAAaaaaa... AAAaaaaa... ADOLESCENTE!!!!

*Artur 'Kjá |HC1506
Ativista Gráfico, Designer e Hardcore

www.hc1506.com / www.interludio.tk / www.guerrilha.net / www.penseskate.net
www.zupi.com.br

Os textos aqui escritos são de responsabilidade dos seus autores.

Um comentário: